quarta-feira, 4 de junho de 2014

Em clausura...

Ando pensando muito nas pessoas que vivem enclausuradas dentro de si. Reprimem sua própria vida, seus desejos, suas fantasias e seus impulsos. Andam curvadas pelo peso de se acorrentarem às verdades que são convenientes, mas que não lhes satisfazem e tudo isso às custas de uma renúncia que lhes desafia todo dia e que, a cada NÃO, apagam-lhes o brilho dos olhos, mas ainda assim, insiste em lhes acender um ímpeto que, ao menos pra mim, é mais aparente que o raio de luz que sangra a escuridão.
São olhos que não param e revelam no sorriso que se contém, mas que diz "note-me o tanto que noto aos que não poderia notá-los", convidam com suavidade, pedem com sofreguidão e clamam com a lascívia que quase não combina com o silêncio de um tormento que se tivesse forma, mais lembraria um terrível furacão.
As pessoas têm se escondido de todos, mas principalmente de si... ao mesmo tempo se mostram, traem-se no que tentando conter. Não se contêm.
No meio religioso é bastante comum que pessoas em busca de uma melhor encontro consigo e com seu Deus, fechem-se em conventos, monastérios e afins. Isso se chama enclausurar-se. A expressão "enclausurar" deriva-se do latim "inclusus" que, por sua vez, tem sua raiz na expressão latina "clausus", que é "fechado". O que me parece importante destacar é que, nesses casos, esse "fechamento" das pessoas, seja literal, físico ou emocional, é um ato de quem espera uma melhor compreensão de si mesmo, a partir de uma renúncia que faz a um instante também de si, uma experiência que lhes legitime para o que continuaram vivendo quando saírem da clausura. O ganho é para agora, para vida que, se é que não escolheram, ao menos lhes é inevitável que vivam. Não o fazem esperando uma recompensa para além da vida que tem.
Por sua vez, as pessoas que apenas limitam-se a abrir mão de serem quem são, perdem. Perdem na medida em que vivem uma escolha muitas vezes dissociada de suas expectativas para o tempo que, arrastado na angústia de quem vive quem não é, parece mais comprido do que o bom tempo sugere em diversão. Perdem também, na medida em que buscando atender ao anseio de outro, mostrando-se a esse quem não são, retiram desse mesmo outro a chance de descobrir que pode ser melhor viver com quem se gosta (a si) do quem que se suporta (por si). 
Ninguém se renuncia a si mesmo, nem se prende dentro da si mesmo e nem se mata para que continue o mínimo de si mesmo, sem que as rebeliões de seu próprio calabouço se escancarem no escândalo silencioso de seus olhos e falta de seu sorriso. E o barulho que não se ouve pode ser ensurdecedor para quem lhes vê. Você percebe?
Há urgências nas vidas que correm os anos e insistem em morrer enquanto andam, sem que tenham - sequer - a escolha de parar de andar (inspirar, respirar, fantasiar e se deixar...viver).

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