sábado, 31 de maio de 2014

Desperdiçamos vida quando temos pressa no viver

As pessoas vêm apresentando uma pressa e uma urgência cada vez maiores. A impaciência parece ser a característica determinante de uma geração pra quem, esperar, é quase uma violência. A sensação é que vivemos tempos em que nada pode ser depois, tudo tem que ser agora e, mesmo agora, já é tarde demais. Isso é terrível.
Nessa semana, por exemplo, me dei conta de que já faz 10 anos que foi transmitido o último episódio de F.R.I.E.N.D.S e 04 anos do último episódio de LOST, duas de minhas séries de tevê favoritas. Dez ano é muito tempo, mas parece que foi ontem e isso só aumenta a sensação de que não temos mais 24 horas no dia. É menos. Tem que ser menos.
Há quem diga que isso é culpa dos telefones celulares. Hoje em dia todos tem um ou mais de um e a facilidade com que se pode achar uma pessoa que queira ser encontrada, fez com que as pessoas não saibam mais esperar uma resposta. Você liga e quer ser atendido, manda a mensagem e já quer a resposta na sequência porque, além de tudo, somos apressados e estamos ainda mais egoístas. A nossa urgência é mais urgente que a urgência dos outros.
Até há pouco tempo não havia o que fosse tão urgente que não pudesse esperar chegar em casa para ligar na casa de alguém. Para que se comprassem fichas de telefone público para uma ligação, o assunto deveria ser de uma importância tal que nem sei. Voltando-se ainda mais no tempo, as pessoas mandavam um “telex” quando era caso de vida ou morte, caso contrário, esperavam meses para que a carta que mandaram chegasse e mais meses para que a resposta enviada lhes viesse às mãos. E a vida vivia mais.
Alguém poderia dizer que a expectativa de vida hoje é maior do que em anos atrás em que se vivia menos tempo. É verdade. Mas qual tem sido o ganho de morrermos depois se enquanto corremos estamos perdendo o jeito de viver? O que fazemos com o tempo que temos a mais se parecemos reféns de expectativas que não foram criadas por nós, onde devemos chegar num destino que não escolhemos para obter aquilo que não queremos, mas precisamos porque alguém disse que isso é “vencer”? Pra que quero ter mais tempo com a minha família, se saio de casa antes que todos acordem e volto pra ela quando todos já estão dormindo, louco que estou por obter mais disso que nem é tão importante assim?
As pessoas querem mais tempo para desperdiçar. Ninguém repara no sol ou na lua, basta saber que estão lá. A natureza é cada vez menos, mas ninguém “pára para” observá-la enquanto ela ainda há. Os filhos crescem, todos fotografam, mas não os veem com olhos, os olham pela lente de um telefone que nos afasta do mundo real, em nome de uma proximidade de faz de conta com quem está longe da gente – e não dá pra dizer que está de perto... só de mentirinha.
As pessoas querem mais, mais, mais, mas não sabem o que fazer com o menos. Acumulam riqueza, acumulam dias, acumulam ganhos, mas nem se dão conta de que perdem vida, momentos, sorrisos, prazer de verdade. Estamos com pressa de ter tudo, sem que saibamos o que fazer com isso e nem com qualquer outro aquilo que teremos, quando, na verdade, mal sabemos o que queremos.
É hora de respirarmos fundo, olharmos a volta e saber que temos uma vida pra viver e não uma batalha pra ganhar; que temos tempo pra crescer e não um desafio a superar; que o momento é vivido aos poucos e que não tenho motivos pra ter pressa em ter mais do que a maioria, porque ser exceção é mais acaso que busca. Um dia de cada vez, todos eles, sem esquecer do hoje pelo que ele será amanhã, e o mundo será outro: o nosso, o dos outros e o de todos nós. 
Viver a vida pra fora enquanto tempo, vida e mundo nos há...

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