sábado, 31 de outubro de 2009

Quando não nos reconhecemos em nós




É aquela clássica cena que já vimos em muitos filmes. O sujeito acorda, levanta-se da cama; olhos fechados pela preguiça matinal. Já no banheiro passa a água no rosto. Ainda curvado alcança a toalha próxima da pia e começa a enxugar seu rosto a medida que vai se endireitando e a câmera passa a focar seu reflexo no espelho. Resultado? Quando se olha no espelho, não é mais ele quem lhe surge, mas outro rosto qualquer. Gritos, desespero, maldições e mais gritos... quem é aquele que ele vê no espelho? Se é ele quem vê, não deveria ver-se a si e não a outro?

Certamente já vimos essa cena mais de uma vez. Soa sempre o absurdo. O cinema feito pastelão elevado à máxima potência. Quais as chances de se olhar no espelho e não se ver a si mesmo, mas antes, onde deveria estar você encontrar outro? Eu diria que são muitas!

Inevitavelmente, nos últimos tempos tenho pensado muito nisso e já há muito venho tentando escrever sobre o tema e a medida que faço essas introduções, confesso que não sei como o texto acabará, mas me pergunto: quando nos olhamos, será que nos reconhecemos?

Voltemos anos passados. Lembremo-nos dos sonhos sonhados e dos desejos mais íntimos; do futuro que nos planejamos e que muitas vezes à cumplicidade da lua e das estrelas assistimos como se fossem a certeza dos próximos capítulos que nos chegariam.

Todos nós em algum momento – de inocência ou não – nos imaginamos em algum lugar, fazendo alguma “coisa” e tendo sucesso. Nisso, representamos o nosso ideal de futuro. A nossa vida como ela deveria ser.

Só que a vida é uma sucessão de escolhas. Não é segredo que o que chegamos a ser é o resultado de nossas escolhas que, por sua vez, são moldadas pelas circunstâncias a que nos temos que nos sujeitar.

Mas não consigo me conformar que a conseqüência natural da existência esteja em não ser quem se quis ser. Não consigo imaginar que uma vida que se mostra a prova mais irrefutável da seleção natural (em que os fortes se sobrepujam aos fracos), admita que haja um conformismo em relação ao que não se foi; um contentamento idiota com o que se está sendo quando o que se é, é tudo aquilo que não se pensou, e pra pior.

Porque se for, os sonhos deveriam ser evitados. Não se deveria almejar um futuro que certamente não terá.

Mas é estranho! É estranho quando vejo que muito do que imaginei que seria me era possível, mas que nessa estrada fiz escolhas que me distanciaram daquilo que ao menos pensei que eu era, escolhas que me acompanharão pelo resto dos dias em que eu for o que venha a ser, pois o momento, agora, já é precluso.

E ainda que reencontre um caminho que me parece cada vez mais distante, não haverá quem me devolva o momento que ficou no longe e os dias em que fui esse que, ao se olhar no espelho, não se enxerga a si, mas só a triste conseqüência do que, pobremente, chegou a ser.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Lembranças de minha infância


Lembranças de minha infância

O trem de minha infância
É o que guardo na lembrança
Um tic-tac à mesma hora
Se afastando contra a aurora.

Ao som do trem, grande ainda me vejo
Garoto pequeno e risonho
Pronto pra no meio do seu sonho
Sonhar com o trem que já não vejo.

O trem desperta minha lembrança
Faz meu mundo recordar
De mim criança na varanda
Vendo o trem a viajar.

E no barulho desse trem
Qual relógio que não se atrasa
Sentir querer, por um momento,
Tornar de volta à minha casa.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Quando não se tem idéias...

Esse texto foi graças a idéia da Regi que também não tinha idéia



A folha em branco





A folha em branco é uma grande aventura.
A folha em branco é a possibilidade do tudo. Ainda que no seu corpo não haja nada.
É na folha em branco que se pode criar heróis, vilões, mocinhos, mocinhas, amantes, bobões...
A folha em branco é a vida que ainda não aconteceu.
Mas e quando se quer escrever, mas não há nada que se consiga escrever? Não há nada em que se consiga pensar?
É mais ou menos como eu me sinto agora. Queria tanto me sentir em condições de dizer alguma coisa, mas assalta-me a certeza sinistra de que na verdade não sei de nada. Não me surge nada. E na minha folha onde poderia haver tudo, até agora não há rigorosamente nada.
Uso então suas linhas – também brancas – para traduzir os pensamentos que penso nesse momento em que escrever me é difícil.
- O que penso eu? Será que sou tão livre em mim mesmo a ponto de tornar público meus medos que me fazem conseqüência errante do que sou?
Queria escrever que sou feliz e não sei o que é ser triste. Queria escrever que me sinto alegre em toda manhã de sol e disposto ainda que em manhã de chuva. Mas não... a realidade não poderia ser mais inversa.
Mas tenho que me congratular com a vida que levo (ou que talvez me leve) já que encontro na vida muito mais do que muitas vezes mereça – ainda que me tenha em alta conta!
Então escrevo uma homenagem aos amigos que tanto gosto e às companhias que tanto prezo. São eles (são vocês) que tem o dom de tornar o dia triste, mais alegre; a perspectiva nula em certeza contente. É ainda por causa de vocês que sei a beleza do significado do sorriso, que tanto me alegra quando os vejo sorrir.
Haveria sem dúvida muito mais a se dizer. Como são muitos os que quero aqui homenagear e que homenageados se sintam.
Se a folha em branco é a vida que ainda não aconteceu, sei que a nossa vai acontecendo. Como acontece essa folha em branco que ainda a pouco não era mais do que o que viria a ser.
Que as linhas das minhas sejam traçadas onde se façam presentes as dos que me queiram bem.
E a folha vai acontecendo, onde o branco nada mais é que a vida a se fazer...

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

HERÓIS E JOSÉS

Mantendo a linha dos textos antigos que são republicados, esse texto é de 2007 e chegou a ser publicado na Tribuna Popular de Cacoal


HERÓIS E JOSÉS


Por que para os heróis dos quadrinhos (que agora são do cinema) tudo parece ser tão mais fácil? Por que não nascemos todos com super-poderes? Visão de Raio-X? Peito de aço? Escalar paredes com a ponta dos dedos e ir pulando de prédio em prédio com uma corda que sai de dentro da nossa mão? Isso sem falar naqueles que viajam no tempo, voam e ainda lêem as mentes.
Mas nós, meros seres humanos, não temos essa prerrogativa. Nós precisamos lutar por aquilo que desejamos. Precisamos correr atrás até alcançar e não adianta nada esperar acontecer, se nós não fizermos, não farão por nós. A vida para nós humanos é bem mais difícil.
Se não bastassem as cobranças que fazemos de nós mesmos, o mundo todo parece cobrar algo da gente. Não podemos nos dar ao luxo de pensar duas vezes, porque quem pensa duas vezes é considerado acomodado. Fazer planos? Isso é só para as férias. Pelo jeito, para a maior parte das pessoas a vida não se planeja tão bem quanto se planejam as férias. A vida se vive, as férias se gozam. Não deveria ser diferente? A vida se goza, nas férias se vive?
Vale a pena esperar por um Salvador da humanidade? O que esse Salvador pode querer em troca para ser o salvador? Porque não acho que exista quem quer que seja nesse mundo que faça qualquer coisa que seja, de graça. No certo qualquer um que se coloque à disposição da humanidade pra ser seu Salvador há de esperar reconhecimento, honras e glórias. A bela e simples idéia de fazer o bem sem olhar a quem passa longe das suas intenções. Tudo faz parte do plano puro e belo de receber os louros do louvor e da admiração de todos os seus salvados.
Quem há de nos socorrer quando nos vemos em meio a um mar de dúvidas e incertezas em relação ao nosso futuro? Até mesmo os super-heróis nas suas histórias têm as suas fraquezas, temores e inseguranças. Nós... nós os temos mais ainda. Ora, nós somos de verdade. Nossas inseguranças são por um futuro que não sabemos o que será e nem quando e se chegará, mas sabemos que temos que continuar vivendo, mesmo que muitas vezes a vontade seja outra.
Pois bem! E agora, José? A luz se apagou, o povo sumiu e a noite esfriou. Somos nós o José. É a nossa hora de acender a luz, achar o povo que foi embora e esperar pelo dia que não será frio. Não adianta contar com o herói Salvador que só existe nos livros, nos quadrinhos e nos filmes. O seu maior é herói, é você

sábado, 17 de outubro de 2009


Sonhei dos sonhos o mais lindo
Mais lindo porque no sonho vi você
Você que tanto gosto quando perto
Você em quem tanto penso quando aqui.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

A EXPERIÊNCIA DA FÉ



A FÉ E A VONTADE DE DEUS

É da natureza humana a pressa em tudo quanto deseja. Definitivamente esperar não é fácil.
Não raras as vezes julgamos ter certeza daquilo que queremos e a essa certeza somam-se várias outras que querem nos fazer crer que sabemos exatamente como chegar no objetivo traçado.
Ledo engano...
Haverá quem julgue que o homem precise ser consciente da sua força para que essa força leve-o adiante; haverá, ainda, aqueles que dirão que o homem é o dono do seu destino e suas escolhas deverão refletir sempre o seu querer mais importante (quando não, imediato).
Mas não é.
A falibilidade da natureza humana é motivo suficiente para que se saiba que não é assim.
O homem, por mais que queira se bastar, não se basta. É por isso que busca o que lhe seja maior. E daí surge a fé.
A fé, segundo a Bíblia, é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem. Ótimo. Não vejo, mas creio (ao contrário do discípulo que sem que visse, não creu).
É simples, ao mesmo tempo em que é difícil.
A fé acaba sempre parecendo a desculpa da fraqueza. É comum que se pareça que aguardar no que não se vê é fácil porque evita que se enfrente uma situação muitas vezes impensável momentos antes que surgisse.
A fé é a desculpa dos fracos. – poderia dizer alguém que nunca tivesse experimentado a fé.
E mais uma vez estaria enganado.
A experiência da fé é das mais maravilhosas e como diz a seqüencia do texto bíblico, foi pela fé (e ainda é) que os antigos alcançaram testemunho.
Mas o que é ter fé? A fé é a certeza inabalável sobre qualquer fato?
Arrisco-me a dizer que não. A fé é confiança. É você temer, mas acreditar que qualquer temor será suprido por quem é maior do que você. É você chorar na certeza que há quem veja tuas lágrimas tendo o poder para transformá-la no mais expansivo sorriso.
Ou alguém acha que Noé enquanto construía sua arca nunca duvidou de que fosse chover? Ou Moisés sempre teve certeza que o mar se abriria ao meio e permaneceria aberto? Ou Davi, com 1,70m de altura achava que por suas próprias forças derrubaria um gigante de 2,92m e vestido de grande armadura?
Todos eles temeram. Davi acreditava em Deus, mas a história diz que pegou 05 pedras. Se a fé é a certeza, 01 única pedra deveria lhe bastar, mas se sentir falho é da natureza do homem, por mais fé que ele tenha em Deus.
Querer tudo de pressa vesus esperar.
Esperar é tão custoso. Queremos acreditar que quando confiamos em Deus qualquer espera é desnecessária, pois o Seu amor acelerará qualquer processo e Ele não deixará que nos angustiemos com o passar do tempo sem qualquer resposta.
Mas o tempo de Deus não é o nosso. E é Ele quem na mesma Bíblia, livro mais perfeito, que diz que Ele não tarda; e que mesmo que julguemos que Ele tarda, cabe que nós esperemos porque o tempo dEle é o perfeito, não o nosso.
Ter fé é saber esperar o tempo de Deus. É ter a consciência de que a vontade dEle é a perfeita para a nossa. Experimentar uma experiência com Deus é declarar de todo o coração que não somos nós quem vivemos, mas que é Ele quem vive em nós. Mas o que é isso? Isso é você dizer que não é tua vontade que interessa, mas a vontade dEle (seja feita a Tua vontade assim na terra, como no céu – lembra?)
Ninguém perde nada crendo que Deus é Deus. Se creres ele O será; se não creres, Ele continuará sendo. Não bastamos a nós mesmos e os momentos de dor provam-nos isso a todo o tempo. Mas há onde nos refugiarmos e onde podemos aprender uns com os outros. A Bíblia é o mapa perfeito e a receita ideal para as angústias da alma.
A experiência da fé é a razão das igrejas lotadas; de muitos rostos alegres ainda que tudo mostre que não há motivos para sorrir; é a razão da felicidade... e vale a pena.
Poderia relatar várias experiência vividas e testemunhadas, mas isso fica pra depois.
Mas convido você leitor, você leitora a que experimentem a tua fé e digam para Deus que os ensine a ter paciência e colocar a vontade dEle no lugar da tua vontade.
E esperem... esperem na certeza de que Ele os ouvirá.
Salmos 40
1
¶ [Salmo de Davi para o músico-mor] Esperei com paciência no SENHOR, e ele se inclinou para mim, e ouviu o meu clamor.
2
Tirou-me dum lago horrível, dum charco de lodo, pôs os meus pés sobre uma rocha, firmou os meus passos.
3
E pôs um novo cântico na minha boca, um hino ao nosso Deus; muitos o verão, e temerão, e confiarão no SENHOR.
4
Bem-aventurado o homem que põe no SENHOR a sua confiança, e que não respeita os soberbos nem os que se desviam para a mentira. (...)

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Momento Nepotismo - Parte II

Se o Sarney pode, a gente também. Segue mais um texto do Sr. Meu Pai. Suas reflexões sobre o hoje e suas consequências amanhã.



A CONSEQUÊNCIA DO HOJE

Dizem que relembrar o passado é sofrer duas vezes. Nem sempre...
O passado às vezes revigora, às vezes nos faz lembrar de que podemos... às vezes nos faz lembrar o que sofremos...onde erramos...
É nos erros que aprendemos a valorizar as coisas a não valorizar outras que não merecem atenção...
O passado que atormenta é imutável. Não podemos mudar de hoje para trás, mas podemos nos perdoar quando fizemos o que hoje nos arrependemos de ter feito...
Se não nos arrependemos, não há o que perdoar, pois era (ainda que somente naquele momento do passado) o que era plausível fazer.
Não devemos nos culpar pelo passado. É como a palavra diz: “passado”. Não volta... Ficou para trás.
Se nos arrependemos, é simples, como não podemos mudar, ignoremos, deixemos lá atrás esquecido...
E o Hoje?
O Hoje é o momento em que podemos olhar para o passado e aprender. Momento de refletir sobre os erros, os acertos, pesá-los na balança. Momento de dizer se algo valeu ou não o sacrifício ou o risco. Momento de saber como é o hoje depois do ontem...
O passado é a nossa história e fomos nós que a escrevemos. Nada do que fizemos foi feito por nós sem que não tivéssemos tido oportunidade de não fazê-lo.
Fizemos mesmo assim, e agora? Agora vivemos o hoje das conseqüências positivas e/ou negativas...
Faltou coragem pra dizer “não farei”? A conseqüência certamente será negativa...
Faltou coragem pra fazer? Idem...
Sobrou coragem e fez? Parabéns pelo livre arbítrio.
Fez e se arrependeu? Que bom que aprendeu a não mais fazer...
Fez e não se arrepende? Continue fazendo. É bom, te faz se sentir bem...sentir bem por escolher o que acha que é bom!
O que realmente é bom não tem porque não ser feito.
Mas, e o Amanhã?
O Amanhã será o hoje depois de hoje...
O Amanhã será o que tiver de ser: muito provavelmente, a conseqüência do Hoje e não do passado...
O Amanhã não deve ser temido como o passado imutável. O Amanhã deve ser esperado com vontade de ser vivido duas vezes...
Viver o Amanhã é ser feliz duas vezes... É imaginar tudo de bom e sabendo que por ser “Amanhã” poderemos mudar pra não ser “passado”.
O Amanhã não nos assusta. Antes nos anima, nos dá força,nos dá esperança.
Não a esperança “que é a última que morre, mas morre”. Mas a esperança que não morre porque é para Amanhã, e o Amanhã nunca morre.
O Amanhã é nosso. Será o que quisermos que ele seja...
Somente há Um que pode redefinir o Amanhã que definimos. Se Ele quiser, resignemo-nos.
Ele é o Senhor do Amanhã...
Confie Nele...”e o mais, Ele fará”!
Simples assim...

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Amor... Ah! O Amor...


Ah! O Amor...
Se aproxima sem ser convidado
Toma posse do que não lhe fora dado
E faz sofrer a quem antes era só de si.

Ah! Esse amor...
É quente quando amado
Doente se desprezado
É um viver pleno ainda que cheio de dor...

Dor de amor...
Tristeza que afronta
Que dói e faz de conta
Que é só mais uma fase que se passará.

Mas eis que chega de repente
Tomando conta da gente
E quando pensa que já se viveu
Surge vida nova, eterno apogeu.

E então se entende que é da vida
O encontro e a despedida
Pois já dizia o poetinha
Quem quase vive já morreu.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Ser um vencedor

Esse Blog sonha com o dia em que aprenderá a fazer textos menos longos e que enfadonhem menos seus leitores - a quem desde já agradece as visitas - mas esse foi o contrário. É um texto longo cheio de reflexões sobre a vida e que pede vênia para que, uma vez publicado, seja lido por todos vocês. Grato.




SER UM VENCEDOR



Quero crer que já houve quem, assim como eu, usou (e ainda usa!) considerar o anseio por vencer na vida como uma vileza tirânica que pode se não cuidada, nos tornar como escravos de nós mesmos.
Sempre há aqueles que querem fazer crer que a vida é uma recorrente luta pela sobrevivência e que nós estamos condenados a viver uma realidade darwiniana onde ao menor sinal de desatenção, alguém mais forte, maior ou mais esperto – isso pra não dizer quando surge alguém que some as três qualidades – passa por cima de nossas cabeças sem que tenhamos sequer entendido o que nos atingiu.
Prova disso são as seções das livrarias com suas prateleiras cada vez mais recheadas dos livros chamados de “auto-ajuda”, cada qual com a sua própria receita de como alcançar o sucesso profissional, ou como conquistar o verdadeiro amor ou conviver com aquele chefe chato em apenas 10 passos.
A canção que falava da pureza da resposta das crianças sobre o que era a vida (bonita, bonita, bonita), também canta que somos nós que fazemos essa vida como der, ou puder e quiser.
Entretanto, nasce o novo dia e a cada dia novo o que se vê são pessoas buscando receitas nas quais pautarão suas vidas como se fossemos todos um só; como se individualidade tivesse sido simples teoria estudada e rechaçada por uma realidade muito mais concreta de que somos todos frutos de uma mesma árvore, água de uma mesma fonte e como tal, em nossos dias não há que se falar em diferenças.
E o mais assustador é que as idéias que insistem em persistir são aquelas que parecem transformar as relações interpessoais num fole de sanfona que a cada batida da música se fecha e se abre: ao mesmo tempo em que une o indivíduo numa única modalidade social, passa a incentivar um comportamento pró-ativo de sua parte onde – utilizando de meios que se se justificarão tão-somente concluída sua jornada na Terra – não se preocupa com o próximo (e a maioria se diz cristão), não enxergando no semelhante um irmão a abraçar, mas a todos olhos, um obstáculo a ser vencido.
E mais uma vez surge a idéia de vencer.
Quem estabeleceu que a vida tem que ser vivida como uma eterna competição? Como se estivéssemos todos numa arena onde gladiadores se digladiam e os vencedores, longe de colherem seus louros, ainda enfrentarão leões famintos e outros gladiadores descansados, que a cada nova luta surgem para lhes digladiar?
E se já é incrível acreditar que alguém definiu esse conceito de vida, mais incrível ainda, é pensar que outro alguém aceitou viver nesse “life-style” (é que dizem que o estilo de lá é melhor que o de cá).
A meu ver esse individualismo que acaba por definir nossos últimos dias é causa e conseqüência de tudo o que se fez e daquilo que ainda se fará. É custoso admitir que caminhamos em direção de um destino que se estampa negro; onde esse negro esconde a estampa que poderia ter coberto esse mesmo destino com toda uma sorte de cores mais alegres, vívidas, loquazes e felizes.
Proporia em outros tempos que fizéssemos um exercício de imaginarmos um mundo sem esse individualismo, sem essa cobrança por vitórias, essa cobrança onde um homem tem que ser sempre melhor que o outro, um mundo como sonharam vários sonhadores, um mundo onde os homens criados como iguais sejam tratados como iguais e vivam como iguais; onde se sentam à mesa uns com os outros, vivendo todos como um só. Convivendo não como quem busca a vantagem que poderá ser aferida desse contato, mas com a convicção que maior vantagem não há que vivermos todos uns pelos outros e nunca querendo sobrepujar nosso ideal ante o diferente.
Onde as diferenças naturais sejam encaradas não como defeitos ou falta de qualidades capazes de separar os homens, mas como a beleza de um mundo onde cada qual carrega sua própria beleza e que essa beleza é que faz de cada um de nós a mais bela obra de arte desse museu que se chama vida.
A vida foi feita para ser vivida de uma maneira leve. A vida não foi feita para que um seja melhor do que o outro, criando assim um vício onde sempre haverá alguém melhor do que alguém; onde o alvo será o próximo degrau após o último degrau.
Por que não se dar mais espaço pro amor? A que espaço fica relegado o amor na vida de nós seres humanos?
Quantas famílias sem familiares ou quantos lares sem seus pares, porque saíram todos para vencer?
Quantas crianças sem pai ou quantas esposas sem um marido, porque o mundo lhe exigiu um sacrifício de não assistir ao filho crescendo ou não amar a esposa a hora que amanhece ou já no anoitecer, tudo porque na vida se tem que vencer.
Onde é que está essa vitória? Quem já a conquistou nesse mundo? Ou seria a vitória o “conquistar o mundo”? Qual o preço a se pagar e quem é que paga esse preço?
Quantas e mais quantas são as pessoas que somente diante do inevitável é que, de uma hora pra outra, passam a realmente prestar atenção na sua vida, para só então perceberem que estão correndo em busca de sabe-se lá o que.
Quantos não são os que saem para vencer, mas não sabem o que é essa vitória. E então é que saindo pelos corredores de suas casas numa dessas noites em que a necessidade de conquistar vitórias leva embora pra bem longe o sono tão desejado, pegam-se passando pela porta entreaberta do quarto do filho e lá o vêem dormindo seu sono tranqüilo e dessa visão eis que surge a sensação imediata de que esse filho tem que ser protegido desse mundo injusto e que parece tão mal.
Esse mesmo que filho que nesse momento dorme descoberto e para o qual, primeiramente, o pai esticando seus braços lhe estende a coberta que o protegerá do frio e que com um afagar nos cabelos e um beijo na testa, incapazes de despertar aquele sono profundo, o pai volta a entender que se há algo na vida a se atribuir valor, não haverá nada maior do que a vitória que vence todo dia que se vive com amor.
O verdadeiro vitorioso não é o sobrevivente dessa ilha de pedra toda ela repleta de mistérios, onde uns em cima dos outros traçam estratégias para o alcançarem o primeiro lugar nos seus escritórios ou um mero reconhecimento do chefe do seu setor, para depois disso ir atrás de mais uma vitória ao custo do que custar. O verdadeiro vitorioso é aquele que consegue entender qual o valor – para si – de cada vitória sua.
Que o beijo da pessoa amada a espera do seu retorno num dia cansativo ou pela manhã, feliz pelo simples fato de ter acordado ao seu lado, é uma vitória; que o abraço e o sorriso do filho quando te vê chegar ao fim do dia, é uma vitória; que viver de bem com o mundo, de bem com a vida e de bem com todo mundo, é uma grande vitória.
Que não é preciso ser rico, poderoso e famoso para ser feliz; que não precisa provar de todos os homens para as que preferem os homens e nem de todas as mulheres para os que delas fazem gosto, para se sentir realizado e para gozar a vida; que não é preciso primeiro conquistar o mundo para depois ser aceito pelos seus, que então estarão te aceitando pelo que você se tornou após vender a si mesmo e não por aquilo que você sempre poderia ter sido.
O importante é você se permitir rir, é você dançar, brincar, cantar e ser, acima de tudo, muito feliz. Mesmo porque no fim das contas o que vai realmente importar não é o que vão pensar de você, mas o que você mesmo vai pensar sobre si.
A maior vitória e a maior conquista que se pode ter é ser e fazer feliz.

sábado, 3 de outubro de 2009

Quando chega o fim...

NA HORA DO ADEUS

Quando chega a hora do Adeus
Amantes, outrora amados pelos seus
Clamam aos céus o amor de Deus
Já que não é fácil se dizer adeus.

A hora do Adeus por mais constante que se faça
É das horas de amor a mais sem graça
E que ainda que se diga que na vida tudo passa
O adeus dos amantes surge como forma de pirraça.

O que outrora parecia não ter fim
Faz-se de repente frágil e leva embora o sim
Deixa no lugar a memória do que era bom
E a dúvida do por que ao bom se decreta o fim.

Chegou a hora do nosso Adeus!
Das horas vividas a mais sem graça
A mais sofrida e que por hora não passa
Mas que leva embora o que se queria um dia se faça.

Pois agora vai e leva contigo a boa memória de mim
É da vida que tudo que é eterno tenha fim
Vida essa que me deu de presente a companhia tua
Que agora vai encontrar a felicidade em quem já não é mais eu.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

RIO 2016 - Agora já é, merrrrmão


RIO - 2016


Esse Blog não se pretende politicamente correto. Pelo contrário, defende que o politicamente correto é chato. Não serve de nada.
E não só porque sou um brasileiro que escreve para brasileiros, mesmo porque, não é certo se dizer que o brasileiro não se quer sério e nem correto.
Mas enfrentemos os fatos: o Brasil não é o país que tem tudo pra dar certo. Ele é o país que tem tudo pra dar errado e que, por Deus ser brasileiro (?!) acaba dando certo.
São tantos os que se mostram contra a realização das Olimpíadas de 2016 serem realizadas no Rio de Janeiro. Até o momento, eu mesmo não sei se sou ou não sou. Só sei que meu país ganhou e como brasileiro me alegro com isso.
Alegro-me porque acredito que nosso povo merece; alegro-me porque acredito que o Brasil encantará o mundo, como já encanta todo mundo.
Porque o povo sofrido merece a ilusão do Panis et circenses e a sensação de que o mundo volta os olhos ao Brasil e é como ele se sente... é como eu me sinto.
A cidade ganhará em estrutura e infra-estrutura. Terá a atenção do mundo e mostrará que sabe ser ainda mais maravilhosa.
Desvio de verbas? Orçamento estourado? Saúde? Segurança? Educação? São preocupações legítimas.
Mas preocupemo-nos depois e não sejamos sisudos em tempos de festa.
As forças que comandam o Brasil (e as que comandam o Rio) sabem se acertar... e não é de hoje.
O gasto que será feito com os Jogos, não fosse feito, não traria garantias de onde esse dinheiro seria empregado. E uma coisa não pode excluir automaticamente a outra.
Se o comodismo impera no Brasil ao ponto dessas linhas pouco se importarem com a destinação orçamentária aos bolsos de poucos poderosos (des)afortunados, é porque é um fenômeno que não nos é exclusivo e nem nos é raro ou recente. Vem de outros... vem de longe.
Viva o Rio! Viva o povo brasileiro! Viva o Brasil!
Temos sobre nós os olhos do mundo... vamos, ao menos, nos enfeitar.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

A GENTE NÃO FAZ AMIGOS, RECONHECE-OS.

O sentimento que une as pessoas é dos mais interessantes para se analisar.

Não. Não estou falando do amor ou do desejo que aproximam homens e mulheres. Esse pode ser explicado pelos hormônios e pela carência de uns em relação aos seus opostos – além dos que não se afeiçoam aos opostos.
Falo desse sentimento que se diz amizade.
A amizade nem sempre se mostra na afinidade etária ou nos interesses em comum.
Pelo contrário. A amizade não precisa de motivos, ela simplesmente é.
As pessoas simplesmente se gostam.
E não se explica.
É como se já se conhecessem de outras vidas. Como se as almas, amigas onde elas são eternas, buscassem umas as outras pelo percurso da vida.
Muitas vezes a diferença da idade entre os amigos nada mais é do que a pressa que tiveram antes para participarem do mundo que antes só assistiam, mas que sempre desejaram.
Ou o que mais explica a afinidade que une amigos? O bem-querer que lhes é regra ou a satisfação da experimentação em comum?
E sempre precisamos dos nossos... e os bons momentos se fazem presentes.
Tenho amigos de 70, 50, 40, 30 e 20 e tantos anos. Todos me são bem quisto e me faço crer que todos me querem bem.
A amizade de hoje, me parece, é o reencontro do que desde antes já era eterno.
É por isso que o maior de todos nós, entre errantes, boêmios e poetas, já dizia sobre o amigo que, dos seus, não fez nenhum. Reconheceu todos.